Motor que já foi abandonado pela Chrysler será substituído por propulsores turbo inéditos
O ano de 2020 será de mudanças dentro da FCA. Será o ano do lançamento da terceira geração o Uno, que por sua vez também será responsável por estrear uma nova linha de motores turbo.
Os motores Firefly, lançados no final de 2016, serão o ponto de partida. No Uno, versão com turbo e injeção direta do motor 1.0 Firefly de três cilindros poderá colocar o compacto no topo do ranking de eficiência de combustível.
Para isso, o três-cilindros ainda receberá novo cabeçote com quatro válvulas por cilindro – o atual tem duas por cilindro, 6 válvulas no total – e duplo comando de válvulas variável, mais preciso que o atual variador de fase nas válvulas de admissão e escape ao mesmo tempo.
Em seguida, a mesma receita será aplicada ao motor 1.3 Firefly, de quatro cilindros. Terá cabeçote 16V, turbo e injeção direta e comando VVT para aposentar o motor 1.8 16V E.torQ, já antiquado em sua concepção.
Atualmente, o motor 1.6 E.torQ equipa apenas o Grand Siena, além de versões de exportação de Strada e Weekend, e as versões de entrada do Jeep Renegade na Europa.
Já o 1.8 E.torQ equipa os Fiat Argo, Cronos, Palio Weekend, Strada, Doblò, Toro e o Jeep Renegade. Suas últimas atualizações foram para a instalação de coletor de admissão variável e stop-start, em busca de médias de consumo mais animadoras.
Mais Chrysler do que Fiat
Apresentados em 2010, os motores E.torQ são mais antigo do que parecem. Surgiram a partir dos motores da Tritec, empresa formada em 1997 por uma joint-venture entre a Chrysler (que se fundiria com a Daimler no ano seguinte) e a britânica Rover, então subsidiária da BMW.
Em vez de ser construída nos Estados Unidos ou no Reino Unido, a fábrica da Tritec foi instalada em Campo Largo, no Paraná. Ela iniciou suas operações em 1999 e toda sua produção era destinada ao mercado externo.
O 1.6 16V SOHC foi mais popular. A versão de 90 cv e 14,3 mkgf era usada pelo Mini ONE , já a configuração com 116 cv e 15,2 mkgf equipou os Mini Cooper, os Chrysler Neon e PT Cruiser fora dos Estados Unidos, além dos chineses Chery A15 e Lifan 520 e 620.
A configuração mais potente, no entanto, era exclusiva do Mini Cooper S. Com compressor do tipo roots e intercooler, o 1.6 chegou a render 170 cv e 22,4 mkgf de torque.
Este Tritec levou o título de “Motor do ano 2003” na categoria “1.4 L a 1.8 L”.Talvez este tenha sido o único trunfo da Tritec, que nunca chegou perto de produzir a metade dos 400.000 motores/ano previstos quando foi criada.
A situação piorou em junho de 2007, quando a BMW saiu da sociedade. Isso porque os Mini, então os maiores clientes da Tritec, passariam a usar os motores Prince/THP desenvolvidos em parceria com a PSA.
Ociosa, a fábrica de Campo Largo teve sua produção suspensa no mês seguinte.
A Tritec só foi vendida em março de 2008. Apesar do interesse de algumas empresas chinesas e da russa AvtoVAZ – fabricante do Lada Niva –, foi a Fiat quem assinou o cheque. A fabricante italiana investiria R$ 250 milhões para transformar o 1.6 Tritec nos 1.6 e 1.8 E.torQ.
Na prática, 70% dos componentes dos E.torQ são diferentes dos Tritec. Mudam bloco, virabrequim, bielas, pistões, coletor de admissão, comando de válvulas, sistema de injeção, volante do motor, bomba d’água e direção hidráulica, tampa de válvulas, junta do cabeçote e bicos injetores, por exemplo.
Ainda assim, mantiveram o comando simples no cabeçote (SOHC) e, no 1.6, o diâmetro e curso dos pistões permaneceu igual. A potência do 1.6 também não mudou muito: dos 116 cv que gerava com gasolina, passou a render 117 cv com álcool e 115 cv com gasolina, porém com mais torque: até 16,8 mkgf.
O mais curioso é que, ainda que indiretamente, o motor Tritec voltou para a Chrysler. O Grupo Chrysler (que englobava ainda a Jeep, a Dodge e a RAM) foi comprado pela Fiat em 2009. Hoje o Jeep Renegade usa os motores E.torQ, outrora rejeitados, no Brasil e na Europa.
Fonte: Quatro Rodas