Praia, sol e água fresca. Essa combinação, que costuma atrair milhões de pessoas ao litoral em fins de semana e feriados, pode não fazer bem ao seu carro. Manchas na pintura e nos vidros, corrosão de peças metálicas e desgaste das borrachas são alguns dos efeitos da maresia. “Trata-se de uma névoa ou aerossol de pequenas gotas, formada pela ação do vento e pela movimentação e arrebentação da água do mar em rochedos ou na praia”, explica Idalina Vieira Aoki, responsável pelo Laboratório de Eletroquímica e Corrosão da Poli-USP. Essas gotículas são levadas pelo vento e se depositam sobre superfícies. “Com temperaturas maiores, a água evapora e sobra uma camada de sal. Por isso, aparecem as manchas esbranquiçadas na pintura e nos vidros dos automóveis.”
Segundo Idalina, essas manchas podem ser removidas por meio de uma simples lavagem com água de torneira. Por isso, a recomendação é lavar o veículo com a maior frequência possível. Porém, caso uma ducha não resolva o problema, uma cera limpadora poderá ajudar. “Existem várias opções no mercado; as mais fáceis de ser usadas são as líquidas”, conta Jun Moreira, gerente do centro de estética automotiva MasterCleaner. “Usando um pano ou aplicador de microfibra, faça movimentos horizontais e verticais e espalhe o produto sobre toda a pintura. Assim, as manchas sairão facilmente”, garante Moreira.
Mas se cuidados como esse não forem tomados, o problema poderá se agravar. “Se esse sal fica muito tempo sobre a pintura, cria uma condição agressiva pela presença de cloretos que vencem a proteção dada pela tinta”, explica Idalina. “Logo aparecerá a ferrugem como produto da corrosão do aço da carroceria do carro.”
Segundo Jun Moreira, com a aplicação de selantes é possível evitar problemas causados pela maresia na pintura. “Existem produtos de diferentes qualidades. Hoje, a melhor proteção contra a maresia para a pintura é a vitrificação”, afirma o especialista. Porém, é um processo caro, que custa em média R$ 1 mil. A vitrificação cria uma película sobre o veículo que protege contra seiva de árvores, fezes de pássaros e maresia. Sua duração é de três a cinco anos, dependendo do produto aplicado, com manutenções periódicas a cada seis meses. Também existem selantes específicos para borrachas, plásticos e vidros. “Os que são à base de nano sílica são mais eficientes”, destaca.
Outra possibilidade é usar uma capa sobre o veículo, mas essa alternativa exige uma série de cuidados. “A capa pode prevenir que uma grande quantidade de sal se deposite sobre a superfície exposta, mas ela precisa ser retirada com alguma frequência para que o carro seja lavado”, ressalta a professora da USP Idalina Vieira Aoki: “Em um veículo que fique parado, num ambiente de alta umidade, esse recurso pode piorar a situação, porque a corrosão vai ocorrer sob a fresta formada entre a capa e a pintura”.
Além da pintura e dos vidros, componentes metálicos do automóvel podem ser afetados pela maresia. Entre eles, parafusos, conexões, peças de freio, suspensão e escapamento, que podem enferrujar. “Na maioria das vezes, é algo apenas superficial e não precisa de qualquer intervenção”, diz o “caçador de carros” Felipe Carvalho, que avalia e negocia a compra de veículos.
Por problemas como esse, carros de regiões litorâneas tendem a valer menos na hora da revenda. “Isso muitas vezes só fica claro na negociação e não no preço pedido pelo dono”, diz Carvalho. “Eu mesmo tenho um certo preconceito, mas defendo que todo e qualquer carro deve ser avaliado de forma individual antes de ser dado o veredito. Minha experiência mostra que há casos de carros bem cuidados por donos entusiastas, mesmo que eles morem na praia.” Entretanto, o caçador faz um alerta: “Se o carro a ser avaliado for antigo, vejo poucas chances de fazer um bom negócio. Estou falando de nacionais dos anos 80 para baixo”.
Já os veículos mais novos passam por processos que garantem anos sem que apareçam pontos de ferrugem. “Isso livra os carros mais modernos do principal problema causado pela maresia”, garante Carvalho. Além disso, os novos processos de pintura aumentaram a proteção contra raios ultravioleta (UVA e UVB), o que evita que a pintura “queime” com o passar do tempo.
Lave o carro semanalmente
Se você vive na praia ou vai passar um longo período no litoral, é recomendado lavar o automóvel ao menos uma vez por semana. Já quem vai curtir um fim de semana ou feriado à beira-mar, deverá levar o veículo para lavar assim que retornar. Em ambos os casos, é indicado encerar o carro mensalmente.
Remova manchas com cera
As manchas da maresia podem ser removidas com uma cera limpadora. As mais fáceis de ser aplicadas são as líquidas.
Invista em selantes
A vitrificação é uma boa proteção contra a maresia para a pintura. Também existem selantes para os vidros, plásticos e borrachas à base de nano sílica.
Lixe a ferrugem
Segundo Idalina, pequenos pontos de ferrugem podem ser removidos manualmente com uso de uma lixa grana 600 e aplicação de tinta de reparo. Mas isso só é indicado para pequenos pontos ou regiões mais escondidas, uma vez que a pintura poderá ficar com tonalidade diferente do restante do veículo.
Cuidado com as capas
Veículos que ficam parados em ambientes de alta umidade com capa podem sofrer ainda mais com a maresia, pois a corrosão vai ocorrer sob o espaço formado entre a capa e a carroceria. Além disso, a ação de colocar e tirar a capa muitas vezes pode riscar o carro.
Fonte: Auto Esporte.