Muita gente já teve vontade de comprar um compressor e uma pistola de ar para repintar o próprio carro. Nada é impossível para quem está disposto a buscar conhecimento e possui dinheiro suficiente para comprar os materiais e os equipamentos adequados, mas é preciso estragar muitas peças antes de encarar a sua “viatura”.
O primeiro obstáculo que vai aparecer é onde pintar? Pode parecer simples, mas não é: a poeira é um grande vilão do processo. Quando visitei a construção da fábrica da GM em Gravataí (RS), um dos engenheiros da obra me disse que a instalação dos equipamentos era fácil, difícil era eliminar toda a poeira da obra do setor de pintura. Um grão de terra que estivesse na estrutura do telhado era suficiente para estragar toda a pintura de um carro.
Preparo da superfície
O importante é saber que cada tipo de superfície exige uma preparação diferente: se for aplicar a tinta sobre uma superfície que já possui tinta é uma preparação. se a superfície está lixada, é outra. E, se a peça é nova, os cuidados são diferentes.
Esta fase de preparo da superfície é muito importante para dar aderência ao material que será aplicado. Durante a aplicação da massa, por exemplo, é importante não deixar marcas de lixa: elas estarão presentes até o final do processo e evidenciarão que o carro sofreu uma repintura.
Depois da aplicação da massa, será necessário remover toda e qualquer impureza como gorduras, poeiras, produtos químicos derivados de petróleo, enfim a superfície tem que estar absolutamente seca, limpa e lisa.
Aplicação do primer
Essa parte é importante para proteger a chapa e facilitar a aderência da tinta. Nas fábricas, ele é aplicado submergindo a carroceria em um grande tanque, para que nenhum ponto fique descoberto. Nas oficinas isto é feito através da pistola de pintura e exige muita atenção para cobrir igualmente toda superfície da chapa.
Acertar a tinta
A tinta que a loja vende nem sempre é igual a do seu carro: não basta pegar o nome ou o código da cor, será preciso acertar a tonalidade. Para ajustar a cor, você terá que contratar um colorista, que é profissional especializado. Ele pegará uma peça do seu carro como amostra, a tampa do tanque de combustível, por exemplo, e, baseado nela, fará uma mistura com pigmentos de outras cores, objetivando igualar a tonalidade original. Isso evita que seu carro fique com duas cores ou uma peça mais clara que a outra, falhas muito comum em carros reparados sem este cuidado.
Só para se que se tenha uma ideia de como o negócio é enrolado, uma única cor prata de um determinado modelo de carro pode ter mais de quinze tonalidades diferentes. Às vezes, um carro prata pintado na parte da manhã na fábrica é diferente de outro carro prata pintado no período da tarde.
Observar uma pessoa pintando parece fácil, mas não é. Além das regulagens de pressão e vazão, é preciso treinar muito para pegar a mão e ter a habilidade de aplicar a tinta de maneira uniforme por toda superfície, evitando, por exemplo, que a tinta escorra por excesso ou que falte tinta em determinada região da peça.
Verniz
Não pense que o verniz vai esconder alguma barbeiragem nos processos anteriores. O verniz não esconde nada, ele apenas protege e dá brilho, portanto, se algo saiu errado na pintura, é melhor esperar secar, lixar e começar tudo novamente.
Existem vários tipos de tintas e vernizes com aplicações e secagens diferentes, não vá misturando e nem diluindo sem se informar. Estes produtos não são baratos e, para aproveitar a qualidade do material, é preciso seguir à risca as informações do fabricante.
Se depois do que você leu, você ainda pretende encarar esse desafio, não comece pelo capô do motor, esta é a peça mais difícil de ser repintada. A tinta leva aproximadamente dois meses para secar, e devido à caloria do motor, tanto a tinta quanto o verniz do capô, acabam secando de forma desordenada (de dentro para fora), por isso é recomendada a secagem dentro de uma estufa. Isto garante que a peça esteja totalmente seca antes de ser instalada, evitando que ela fique opaca, sem brilho.
Estas foram apenas algumas pinceladas sobre o assunto. Se você gostou, é melhor investir em um curso especializado: além de não estragar material, você poderá abrir o caminho para uma nova profissão. Até a próxima!
Fonte: G1